Proximo Jogo
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Mas dá pra ser mais profundo do que um pires!
Voltando do ultimo jogo (26/05) em uma conversa com o Ale sobre como construir bons personagens surgiram alguns pontos interessantes que mereciam ser registrados.
Não falo da construção técnica, numérica e tal. Isso também é importante, mas a construção da psique do personagem, que é tão importante quanto os números e um bom combo e que acaba um tanto negligenciada as vezes.
A primeira coisa a ser levada em consideração é que seu personagem seja divertido para o jogo. Isso não é tão simples quanto parece, Divertido para o jogo é um tênue equilíbrio em sua diversão e do grupo. Não adianta fazer um lobo solitário que vai insistir em não acompanhar o grupo. E é bastante chato fazer o fui junto, um personagem que só tá lá pra matar coisas, sem uma motivação própria.
Equilíbrio é o segredo aqui.
E como fazer a coisa ser mais profunda do que um pires?
A chave é a construção, quanto melhor seu personagem for construído, mais profundo ele será e mais nuances você terá pra aproveitar dele.
Um background não é só aquilo que você escreve pra justificar de onde vieram seus itens mágicos, ou porque você fala determinada língua antiga e perdida, mas incrivelmente conveniente para a campanha. É onde você junta partes e cria algo interessante.
Show, don´t tell
E por mais que isso pareça estranho em um jogo basicamente verbal como o RPG ele faz sentido. Seu background não é para seu personagem ficar declamando para os outros personagens, só gente chata conta tudo da vida para estranhos. Seu background é algo para você mostrar em suas ações e deixar seus amigos curiosos de por que diabos você está tomando aquela decisão.
Tudo que disser será usado contra você
E isso é ótimo, quer dizer, se o mestre do jogo for um bom mestre ele saberá usar ele contra você e é péssimo se blindar disso. Um herói cresce nos desafios, um herói nunca é maior que o vilão. E quando esse vilão ou desafio são pessoais para o seu personagem é aqui que a coisa fica interessante. Não tenha medo de deixar parentes ou amores vivos, não tenha medo de deixar pontas soltas, metade da diversão de um jogo é o que o mestre pode explorar do background do seu personagem.
Você é o que a vida fez de você
Um bom personagem vem de um bom background, não só objetivos da quest, como vingança, recuperar itens mágicos e coisas assim. Essas coisas são ótimas pra começar, mas isso é só a superfície. Um personagem bem construído terá características de personalidade sutis e distintas, mesmo dentro de um arquétipo mais geral.
Um exemplo pessoal:
E adoro o personagem do tipo gambler, aquele que vai arriscar a vida de todo o grupo na lábia. Vive sobre o fio da navalha e sob a lâmina da guilhotina. Geralmente personagens assim são baseados em carisma.
Mesmo com um arquétipo do herói falastrão enganador e carismático muito pode ser explorado.
Vessen Beritian era um alto elfo e bardo. Cansado da vida de corte, da honra e da nobreza ele parte vivendo pelo mundo de sua fala rápida, sua música e sua espada. Ele não deixa de se vestir e pensar como um nobre, ele ainda trata as pessoas com uma certa arrogância, sua origem nobre e elfica pesam em sua vida. Ele gosta do melhor, acostumado a inspirar desejos em quem tem tudo, acha fácil e divertido fazer isso com o povo comum. Vessen é bissexual, mas discreto sobre isso, sua pompa de corte ainda é muito importante para ele. No fim é um nobre bom vivan que quer a liberdade do mundo, mas não abre mão dos confortos do quais está acostumado. Sua melhor descirção seria o nobre boêmio, o típico poeta romântico. Vessen foi inspirado em Marques de Sade e Lord Byron.
Galtar, mesmo sendo um enganador tão bom como Vessen e vivendo da enganação jé é seu oposto. Galtar é humano, décimo terceiro filho de um casal pobre de camponeses. Queria mais da vida do que arar e colher e seguiu para a cidade aos 13 anos. Seu irmão mais velho é o único além dele que saiu do campo, mas seguiu uma vida militar e bastante respeitável. Galtar está acostumado com o papel de capacho, com a miséria e em sumir na multidão. Se Vessesn era o extravagante estranho de chapel com pena e uma capa púrpura, Galtar era o garoto em farrapos que ninguém olha duas vezes. Galtar não tinha problema em parecer humilde quando necessário, coisa que seria impensáel para Vessen e ser totalmente seguro no momento seguinte. Galtar é o pobre ambicioso e deslumbrado pela vida e riqueza. Ele não liga em saber qual garfo usar para o peixe ou o faisão, mas se puder roubara os dois do nobre idiota e dividirá com os outros garotos do beco. Galtar foi inspirado em personagens como Oliver Twist, Manda Chuva e aquele moleque do Indiana Jones e o Templo da Perdição.
Ilnolin. Meio elfo drow, meio humano, bardo. Ilnolin é muito diferente de Vessen e Galtar. Leva sua vida na lingua afiada, mas não é um nobre e nem um garoto de rua, Ilnolin é um niilista que finge para si mesmo ser um hedonista. ilnolin carrega muitas feridas de seu passado. Uma mãe drow que passou parte da vida prisioneira e que morreu de tuberculose (causa provável) quando ele tinha sete anos, um pai que nunca conheceu. Aprendeu o que é ser desprezado e a viver na rua, encontrou auxílio em um mentor que também não durou muito a seu lado. Todo mundo que importou pra ele está morto. Ele se vê como um sobrevivente, alguém que tem o melhor da vida e não se importa com que pensam dele. Não há mais nada a perder. Não passa vontades, não tem pudores, só experimenta o mundo, pois sabe, desde muito sendo, o quanto as coisas são efêmeras e que um dia um passo errado lhe custará a vida. Ele tenta não pensar no passado, ou no provável futuro sombrio. Ele já teve medo da morte, agora é sua amante e melhor amiga. Sempre a o próximo combate, o próximo amor e a próxima ânfora de vinho. Até que ceifador enfim o ache. Sua infância em um cativeiro e como isso afetava a sua mãe o dotaram de um desejo absurdo pela liberdade o que o pode levar a defender estranhos e comprar brigas que não são suas. Ele, no fim das contas, tem um desejo de morte. Inspirado nos inúmeros heróis trágicos do romantismo, no Capitão Jack Harkness de Doctor Who e nos heróis de filmes noir.
Percebam que nada disso seria possível de caracterizar sem um passado para os personagens. E o jogo fica mais fácil e divertido quando você está controlando um personagem completo do que um cartaz de papelão com um bom ataque.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário